T.I. As três zonas do cérebro: compreender para regular

Já todos passámos por momentos em que sentimos que “perdemos a cabeça”. Uma palavra atravessada, um gesto inesperado ou uma situação de stress pode fazer disparar emoções intensas que nos parecem impossíveis de controlar. Daniel Siegel, psiquiatra e investigador, encontrou uma forma simples de explicar este fenómeno: dividir o cérebro em três zonas ou “andares de uma casa”.

Esta metáfora ajuda crianças, adolescentes e adultos a compreenderem porque é que, em certos momentos, não conseguimos pensar com clareza — e como podemos reencontrar o equilíbrio.

Imagine o cérebro como uma casa:

  • Na cave, encontramos o cérebro de baixo. É responsável pelas funções básicas de sobrevivência, como respirar, dormir e reagir instintivamente em situações de perigo. É o espaço da luta, fuga ou congelamento.
  • No andar intermédio, está o cérebro do meio, ligado às emoções e às memórias. Aqui vivem o medo, a alegria, a tristeza, a raiva e o afeto.
  • No andar de cima, está o cérebro superior, onde se localiza o córtex pré-frontal. É a zona do raciocínio, da empatia, da tomada de decisão e do autocontrolo.

Quando estamos tranquilos, os três andares comunicam bem entre si. Mas, em momentos de stress, acontece aquilo que Siegel descreveu como “levantar a tampa”. O andar de cima deixa de funcionar, e ficamos dominados pela cave e pelo andar intermédio — instinto e emoção. É por isso que, durante uma birra ou uma explosão emocional, não adianta tentar explicar calmamente. Antes de mais, é preciso acalmar o corpo e as emoções, para só depois recuperar a clareza do raciocínio.

Este modelo simples pode ser um recurso precioso:

  • Para professores e pais, que compreendem melhor o comportamento das crianças;
  • Para utentes em psicologia, que visualizam de forma prática o que acontece em momentos de desregulação;
  • Para cada um de nós, no dia a dia, quando sentimos que estamos prestes a “perder a cabeça”.

Claro que esta explicação tem limites. É uma metáfora, não uma descrição exata do funcionamento do cérebro. Em casos de perturbações neurológicas ou psiquiátricas mais graves, necessita sempre de ser integrada num acompanhamento especializado. Também pode ser difícil de aplicar com crianças muito pequenas, sendo útil recorrer a histórias, jogos ou desenhos para facilitar a compreensão.

Ainda assim, o modelo das três zonas do cérebro abre um caminho de consciência e autorregulação. Da próxima vez que sentir que está prestes a reagir de forma impulsiva, pode perguntar-se: “Será que o meu andar de cima está desligado?” Essa pequena pausa pode ser o primeiro passo para voltar a ligar os três andares e recuperar o equilíbrio.

Nos últimos anos, o psiquiatra Daniel Siegel tem-se destacado pelo modo simples e acessível como traduz conceitos complexos da neurociência para a vida quotidiana. As suas propostas, como a metáfora das três zonas do cérebro, o conceito de Mindsight e a prática da Roda da Consciência, oferecem ferramentas práticas para promover a autorregulação, a empatia e o bem-estar. Ao longo desta série de artigos, vamos explorar cada uma dessas abordagens e refletir sobre como podem ser aplicadas no dia a dia, em contexto terapêutico, educativo ou familiar.

Em suma, as propostas de Daniel Siegel recordam-nos que compreender a mente e cultivar a consciência pode ser um caminho simples e transformador para viver com mais equilíbrio, empatia e bem-estar.