
A leitura é uma das competências centrais do percurso escolar e um dos pilares para o desenvolvimento académico, social e pessoal. Quando existem dificuldades persistentes em aprender a ler, que não se explicam por fatores externos como falta de ensino adequado, défices sensoriais ou baixa capacidade cognitiva, pode estar presente uma Perturbação Específica da Aprendizagem na área da leitura, muitas vezes conhecida como dislexia.
É importante distinguir dificuldades transitórias de aprendizagem de uma perturbação, já que esta implica um padrão consistente de dificuldades que necessita de acompanhamento especializado.
Definição e critérios
De acordo com o DSM-5 e a CID-11, a Perturbação Específica de Aprendizagem é uma condição do neurodesenvolvimento que afeta competências académicas fundamentais. No caso da leitura, manifesta-se em dificuldades persistentes em:
- Reconhecimento preciso e/ou fluente de palavras;
- Descodificação fonológica (transformar letras em sons);
- Ortografia;
- Compreensão leitora.
Estas dificuldades apresentam-se apesar da criança ter recebido ensino adequado, possuir um nível cognitivo dentro da média e não apresentar défices sensoriais significativos.

Sinais de Alerta
A forma como a perturbação se manifesta varia consoante a idade:
- Pré-escolar: dificuldades em aprender rimas, identificar sons iniciais das palavras ou reconhecer letras.
- 1.º ciclo: lentidão na aprendizagem da leitura, troca de letras, dificuldades em juntar sílabas, erros ortográficos frequentes.
- 2.º e 3.º ciclos: leitura pouco fluente, dificuldades em compreender textos, fraca memória para palavras escritas.
- Adolescência e idade adulta: leitura lenta, necessidade de releitura frequente, dificuldade em seguir instruções escritas extensas, insegurança ao ler em voz alta.
Causas
A investigação tem mostrado que esta perturbação tem uma origem neurobiológica, com forte componente genética. Alterações no processamento fonológico e em áreas cerebrais associadas à leitura contribuem para as dificuldades.
Apesar da base biológica, fatores ambientais como oportunidades de estimulação linguística precoce, qualidade do ensino e apoio da família podem atenuar ou agravar a expressão da perturbação.
Impactos na vida da criança e do adolescente
As dificuldades de leitura vão muito além do desempenho escolar. A criança pode sentir-se constantemente frustrada, desenvolver sentimentos de inferioridade e rejeitar a escola. A autoestima tende a ficar comprometida, e podem surgir sintomas de ansiedade e desmotivação.
A nível social, algumas crianças evitam ler em público, temendo a avaliação dos colegas, o que pode afetar a integração no grupo e as relações de amizade.
Intervenção e Estratégias

Uma resposta eficaz requer avaliação multidisciplinar, envolvendo psicologia, terapia da fala e, quando necessário, outras áreas como psicomotricidade e terapia ocupacional.
Algumas estratégias que podem ser importantes incluem:
- Intervenção estruturada e explícita no ensino da leitura (métodos fonológicos e multissensoriais);
- Reforço positivo e promoção da autoestima;
- Uso de materiais adaptados (textos simplificados, audiolivros, software de apoio à leitura e escrita);
- Acompanhamento individualizado, com progressão ajustada ao ritmo da criança;
- Articulação estreita entre professores, técnicos e família, para garantir consistência nas estratégias.
No contexto escolar português, pode ser necessário ativar medidas de suporte previstas na Lei n.º 116/2019 (Educação Inclusiva), de forma a criar condições de aprendizagem equitativas.
Recomendações práticas
- Seria importante que os professores observassem atentamente sinais precoces e encaminhassem para avaliação quando persistem dificuldades de leitura.
- As famílias necessitam de ser envolvidas no processo, com informação clara sobre a natureza da perturbação e estratégias simples para apoiar em casa.
- A escola pode beneficiar de formação específica para lidar com diferentes perfis de aprendizagem.
- Sempre que surjam dúvidas ou dificuldades mais significativas, pode ser útil procurar serviços especializados em perturbações do neurodesenvolvimento.

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A Perturbação Específica de Aprendizagem na área da leitura não significa falta de inteligência ou de capacidade para aprender. Com intervenção precoce, estratégias adequadas e apoio consistente da escola, da família e dos técnicos, as crianças e adolescentes conseguem desenvolver as suas competências e alcançar o sucesso académico e pessoal.
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Referências Bibliográficas – Manuais MSD