
A escrita é uma ferramenta essencial de comunicação, organização do pensamento e aprendizagem. Quando uma criança ou adolescente apresenta dificuldades persistentes na expressão escrita, apesar de ensino adequado, pode estar em causa uma Perturbação Específica da Aprendizagem na área da escrita.
Este quadro envolve problemas consistentes em traduzir o pensamento em linguagem escrita, afetando a ortografia, a gramática, a pontuação, a organização do texto ou até o grafismo.
Definição e critérios
De acordo com o DSM-5 e a CID-11, esta perturbação manifesta-se em dificuldades significativas e persistentes em:
- Ortografia correta (erros frequentes e inconsistentes);
- Gramática e pontuação (frases incompletas, estrutura desorganizada);
- Clareza e organização do texto;
- Produção escrita mais lenta ou graficamente deficitária (em alguns casos).
Tal como na leitura, estas dificuldades não se explicam por ausência de ensino, défices sensoriais ou baixo funcionamento cognitivo.

Sinais de Alerta
Os sinais podem variar consoante a idade e o nível de escolaridade:
- Pré-escolar e início do 1.º ciclo: dificuldades em aprender a segurar corretamente o lápis, desenhos pouco organizados, resistência a tarefas de escrita.
- 1.º ciclo: erros ortográficos persistentes, inversão ou omissão de letras, letras ilegíveis, frases sem sentido completo.
- 2.º e 3.º ciclos: dificuldades em estruturar textos, erros gramaticais frequentes, lentidão na escrita, incapacidade de organizar ideias de forma coerente.
- Adolescência e idade adulta: textos pobres em vocabulário e estrutura, escrita pouco legível, grande esforço para redigir textos mais longos.
Causas
A perturbação resulta de uma combinação de fatores neurobiológicos e cognitivos, muitas vezes relacionados com dificuldades na memória de trabalho, na consciência fonológica, na automatização da ortografia e na motricidade fina. Podem coexistir perturbações na leitura, uma vez que os processos de leitura e escrita estão fortemente interligados.
Impactos na vida da criança e do adolescente
As dificuldades de escrita podem afetar o rendimento escolar em várias disciplinas, já que muitas tarefas e avaliações dependem da produção escrita.
Além disso, a criança pode sentir frustração e desmotivação, evitando escrever ou mostrando insegurança em tarefas académicas. Isto pode repercutir-se na autoestima e nas relações sociais, especialmente quando existe comparação com os colegas.
Intervenção e Estratégias

Uma resposta eficaz requer uma avaliação multidisciplinar, envolvendo psicologia, terapia da fala e, em alguns casos, terapia ocupacional (particularmente quando existem dificuldades grafomotoras).
Algumas estratégias que podem ser importantes incluem:
- Treino explícito de regras ortográficas, gramática e estrutura textual;
- Uso de técnicas multissensoriais para consolidar a aprendizagem da escrita;
- Reforço da motricidade fina e da coordenação visuo-motora;
- Ferramentas de apoio, como processadores de texto com corretores ortográficos, ditado por voz e programas específicos;
- Apoio individualizado, com foco nas áreas em maior défice;
- Colaboração entre professores, técnicos e família, para criar consistência no treino e nas expectativas.
No contexto português, a Lei n.º 116/2019 (Educação Inclusiva) prevê medidas de suporte à aprendizagem, incluindo adaptações nas tarefas e avaliações escritas, de forma a garantir equidade no percurso escolar.
Recomendações práticas
- Seria importante que os professores incentivassem o esforço da criança, valorizando as ideias e não apenas os erros ortográficos.
- As famílias podem apoiar com jogos de palavras, escrita criativa em contexto lúdico e incentivo diário à prática, sem pressão excessiva.
- A escola poderá recorrer a recursos tecnológicos e metodologias diferenciadas para reduzir o impacto da perturbação.

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A Perturbação Específica de Aprendizagem na área da escrita pode ser um desafio importante no percurso escolar, mas não define as capacidades globais da criança ou adolescente. Com intervenção precoce, estratégias adequadas e apoio consistente, é possível desenvolver competências de expressão escrita que favoreçam a comunicação, a aprendizagem e a autoestima.
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Referências Bibliográficas – Manuais MSD