D.H. Perturbação Específica de Aprendizagem na Área da Matemática

A matemática é uma área fundamental do currículo escolar, com impacto direto na vida quotidiana, desde a gestão do dinheiro até à organização do tempo. Quando uma criança apresenta dificuldades persistentes e significativas na aprendizagem da matemática, que não se explicam por ensino insuficiente, défices sensoriais ou baixo funcionamento cognitivo, pode estar em causa uma Perturbação Específica de Aprendizagem na área da matemática, também conhecida como discalculia.

Segundo o DSM-5 e a CID-11, esta perturbação caracteriza-se por dificuldades consistentes em compreender e manipular conceitos numéricos, realizar cálculos ou aplicar raciocínio matemático. Estas dificuldades são persistentes, surgem desde os primeiros anos escolares e interferem de forma significativa com o rendimento académico e a vida diária.

Os sinais de alerta surgem de diferentes formas:

  • Dificuldades em compreender a noção de número e quantidade;
  • Erros frequentes em operações básicas (adição, subtração, multiplicação, divisão);
  • Problemas na memorização de factos numéricos (tabuadas, sequências);
  • Dificuldade em compreender símbolos matemáticos;
  • Dificuldades no raciocínio lógico-matemático e na resolução de problemas.

E variam consoante a idade:

  • Pré-escolar: dificuldade em aprender rimas e sequências numéricas, confusão em contagens simples, dificuldade em perceber “mais” e “menos”.
  • 1.º ciclo: erros frequentes em contas básicas, lentidão em aprender a tabuada, dificuldade em compreender problemas matemáticos.
  • 2.º e 3.º ciclos: grande dificuldade em lidar com frações, percentagens, equações simples e raciocínio abstrato.
  • Adolescência e idade adulta: insegurança em cálculos, dificuldades na gestão de dinheiro, organização do tempo e planeamento.

A discalculia tem origem neurobiológica, estando relacionada com diferenças na forma como o cérebro processa a informação numérica e espacial.

Podem estar envolvidos défices na memória de trabalho, na atenção e na velocidade de processamento. Além disso, dificuldades em leitura e escrita podem agravar o desempenho em matemática, já que muitos problemas exigem interpretação de texto.

Impactos na vida da criança e do adolescente

A perturbação pode gerar um impacto significativo no percurso escolar, já que a matemática é transversal a várias disciplinas. As crianças podem desenvolver ansiedade face à matemática, evitar tarefas que envolvam números e sentirem-se constantemente em desvantagem relativamente aos colegas. Isto pode afetar a autoestima e a motivação, criando uma barreira psicológica ao estudo da disciplina.

Na vida quotidiana, a discalculia pode dificultar tarefas práticas como gerir o dinheiro, compreender horários, calcular tempo ou organizar atividades.

Intervenção e estratégias

Tal como nas restantes perturbações de aprendizagem, a avaliação deve ser multidisciplinar, envolvendo psicologia, terapia da fala (quando há dificuldades associadas à compreensão verbal) e, em alguns casos, psicomotricidade e terapia ocupacional.

Algumas estratégias que podem ser importantes incluem:

  • Ensino estruturado, recorrendo a materiais concretos e visuais para explicar conceitos abstratos;
  • Repetição frequente, com variação de métodos para consolidar aprendizagens;
  • Jogos matemáticos e atividades lúdicas que promovam a familiaridade com números;
  • Utilização de apoios tecnológicos (calculadoras, software educativo, aplicações digitais);
  • Foco na aplicação prática da matemática no quotidiano (ex.: cozinhar, fazer compras, planear atividades).

No contexto escolar, podem ser acionadas medidas de suporte previstas na Lei n.º 116/2019 (Educação Inclusiva), como adaptações em testes e avaliação diferenciada.

A Perturbação Específica de Aprendizagem na área da matemática não significa incapacidade de aprender, mas sim uma forma diferente de processar a informação numérica. Com intervenção precoce, estratégias diferenciadas e apoio consistente da escola, da família e dos técnicos, é possível reduzir o impacto da discalculia e promover a autonomia e a confiança da criança ou adolescente.

Referências BibliográficasManuais MSD