Em meados Março de 2020, Irene Vella publicou no jornal Petit Hong Kong, um poema A primavera não sabia!
Passou um ano, a esperança vai coexistindo a incerteza do amanhã, sem mascaras, sem medo de estarmos próximos!
As palavras esgotam-se nestes dias que correm ao sabor de uma velocidade que apesar de confinada não deixou de existir! Olhamos o mundo sem a certeza se é isto que esperamos para a nossa vida, uma existência em que passamos pela vida sem a saborear a não ser unicamente nas férias! E mesmo essas, são com uma serie de protocolos… como se a vida tivesse de ser encaixada num qualquer buraco da agenda!
A primavera está aí, a um passo e o que ela nos irá trazer neste ano?
Será que realmente aprendemos alguma lição passado um ano?
Era março de 2020…
As ruas estavam vazias, as lojas fechadas, as pessoas não podiam sair.
Mas a primavera não sabia, e as flores começaram a florescer, o sol brilhava, os pássaros cantavam, as andorinhas iam chegar em breve, o céu estava azul, a manhã chegava mais cedo.
Era março de 2020…
Os jovens tinham que estudar online e encontrar ocupações em casa, as pessoas não podiam fazer compras nem ir ao cabeleireiro. Em breve não haveria mais espaço nos hospitais, e as pessoas continuavam ficando doentes.
Mas a primavera não sabia. A hora de ir ao jardim estava chegando, a relva ficava verde.
Era março de 2020…
As pessoas foram colocadas em contenção, para proteger avós, famílias e crianças. Chega de reuniões, nem refeições, festas com a família. O medo se tornou real e os dias eram parecidos.
Mas a primavera não sabia, as macieiras, cerejeiras e outras floresceram, as folhas cresceram.
As pessoas começaram a ler, a brincar com a família, cantando na varanda convidando os vizinhos a fazerem o mesmo, aprenderam uma nova língua, a serem solidários e se concentraram em outros valores.
As pessoas perceberam a importância da saúde, o sofrimento, deste mundo que parou, da economia que caiu.
Mas a primavera não sabia. As flores deixaram seu lugar para a fruta, os pássaros fizeram o ninho, as andorinhas chegaram.
Então o dia da libertação chegou, as pessoas souberam pela TV que o vírus tinha perdido a batalha, as pessoas saíam para a rua, cantavam, choravam, beijando seus vizinhos, sem máscaras nem luvas.
E foi aí que o verão chegou, porque a primavera não sabia. Ela continuou lá apesar de tudo, apesar do vírus, do medo e da morte. Porque a primavera não sabia, ela ensinou as pessoas o poder da vida.